A Região Cacaueira da Bahia, também conhecida como Costa do Cacau, representa um importante capítulo na história econômica, social e cultural do Brasil. Localizada no litoral sul do estado da Bahia, esta região ganhou notoriedade mundial por sua produção de cacau, que por décadas foi o principal motor econômico local e um dos mais importantes do país. Das fazendas dos coronéis do cacau às páginas dos romances de Jorge Amado, a cultura cacaueira moldou profundamente a identidade desta parte do Brasil, criando tradições, conflitos e histórias que continuam vivas até hoje. Este artigo busca explorar a rica trajetória da região cacaueira baiana, desde os primórdios da colonização até os desafios e transformações da atualidade.
Contexto Histórico: Do Descobrimento ao Início da Cultura Cacaueira
Os Primeiros Contatos com o Território
A história documentada da região começa com a chegada dos portugueses ao Brasil em 1500. A expedição de Pedro Álvares Cabral fez seu primeiro contato com o território brasileiro justamente no sul da Bahia, em Porto Seguro, área próxima ao que viria a se tornar a região cacaueira. Os primeiros relatos europeus já mencionavam a exuberância da Mata Atlântica e a presença de diversas comunidades indígenas, principalmente os Tupiniquins e os Pataxós.
Durante o século XVI, a ocupação europeia avançou lentamente. A costa baiana foi dividida em capitanias hereditárias, com a capitania de Ilhéus sendo doada a Jorge de Figueiredo Correia em 1534. A colonização efetiva começou com a fundação da Vila de São Jorge dos Ilhéus em 1536, um dos primeiros núcleos urbanos do Brasil colonial. Contudo, a resistência indígena, principalmente dos Aimorés, retardou significativamente a expansão portuguesa pela região.
A Economia Colonial e o Período Pré-Cacau
Durante os primeiros séculos da colonização, a economia da região esteve baseada principalmente na extração de pau-brasil, na produção de cana-de-açúcar e na agricultura de subsistência. Os engenhos de açúcar prosperaram inicialmente, mas nunca alcançaram a mesma importância que tiveram em outras partes do Nordeste brasileiro, como Pernambuco e Recôncavo Baiano.
A região permaneceu relativamente periférica no contexto colonial até meados do século XVIII. Nesse período, a descoberta de ouro em Minas Gerais afetou toda a economia colonial, deslocando o eixo econômico para o centro-sul do país. A Vila de Ilhéus manteve-se como um modesto entreposto comercial, enquanto o interior da região permanecia largamente inexplorado pelos colonizadores.
A Introdução do Cacau
A história do cacau na Bahia inicia-se oficialmente em 1746, quando o francês Louis Frederic Warneaux trouxe as primeiras sementes do Pará e as plantou na fazenda Cubículo, às margens do Rio Pardo, em Canavieiras. Contudo, o cultivo comercial em larga escala só começaria a ganhar impulso no século XIX. O cacaueiro (Theobroma cacao), originário da Amazônia, encontrou condições ideais para seu desenvolvimento no sul da Bahia: clima quente e úmido, solos férteis e a sombra das grandes árvores da Mata Atlântica, no sistema que ficou conhecido como “cabruca”.
A partir de 1822, com a independência do Brasil, políticas de incentivo à produção agrícola favoreceram a expansão do cultivo. Em 1830, o cacau já figurava entre os produtos de exportação da Bahia, embora ainda em volume modesto. Foi somente a partir da segunda metade do século XIX que a produção cacaueira ganharia verdadeiro impulso, alavancada pelo crescente mercado internacional de chocolate.
A Era de Ouro do Cacau (1890-1930)
Expansão e Consolidação
O período entre 1890 e 1930 é considerado a “era de ouro” do cacau baiano. A demanda crescente do mercado internacional, impulsionada pela revolução industrial e pela popularização do chocolate na Europa e nos Estados Unidos, catapultou a produção brasileira. Em 1890, o Brasil já era o segundo maior produtor mundial de cacau, atrás apenas do Equador, e a Bahia respondia por mais de 90% da produção nacional.
A expansão cacaueira transformou radicalmente a paisagem física e social da região. As florestas deram lugar às plantações, mas de forma peculiar: ao contrário de outros cultivos que eliminavam completamente a cobertura vegetal original, o sistema “cabruca” preservava parte das árvores nativas para fornecer sombra aos cacaueiros, criando um sistema agroflorestal único.
Os Coronéis do Cacau e a Estrutura Social
A economia cacaueira gerou uma elite regional poderosa, os chamados “coronéis do cacau”. Estes fazendeiros, muitos dos quais haviam começado como pequenos produtores ou mesmo como desbravadores sem recursos (os “desbravadores”), acumularam fortunas e poder político consideráveis. A figura do coronel cacaueiro, com seu mandonismo local, tornou-se emblemática da região, posteriormente imortalizada na literatura de Jorge Amado.
A estrutura social da região cacaueira caracterizava-se por fortes contrastes. No topo, os grandes proprietários rurais ostentavam riqueza e poder; na base, uma massa de trabalhadores rurais, muitos deles migrantes nordestinos fugidos da seca, vivia em condições precárias. Entre esses extremos, desenvolveu-se uma incipiente classe média urbana ligada ao comércio e aos serviços.
A disputa por terras foi um elemento constante nesse período, frequentemente marcada por violência. A expressão “caxixe” tornou-se conhecida como a prática de apropriação fraudulenta de terras, enquanto os “jagunços” eram os homens armados a serviço dos coronéis. Este cenário de disputas, enriquecimento rápido e transformação social forneceu material abundante para o que mais tarde seria conhecido como o “ciclo do cacau” na literatura brasileira.
O Desenvolvimento Urbano: Ilhéus e Itabuna
O progresso econômico refletiu-se no desenvolvimento urbano, especialmente nas cidades de Ilhéus e Itabuna, que se tornaram os polos centrais da região. Ilhéus, como cidade portuária, era o principal ponto de escoamento da produção e concentrava o comércio exportador. Sua paisagem urbana transformou-se rapidamente, com a construção de palacetes, teatro, clubes sociais e infraestrutura moderna para os padrões da época.
Itabuna, fundada oficialmente em 1910 após emancipar-se de Ilhéus, emergiu como importante centro comercial e de serviços. Situada no interior, mais próxima às áreas produtoras, a cidade desenvolveu-se rapidamente, atraindo comerciantes, profissionais liberais e prestadores de serviços. A rivalidade e a complementaridade entre as duas cidades tornaram-se características marcantes da dinâmica regional.
Crise e Transformações (1930-1990)
A Grande Depressão e os Primeiros Sinais de Crise
O crash da bolsa de Nova York em 1929 e a subsequente Grande Depressão afetaram profundamente a economia cacaueira, dependente das exportações. Os preços internacionais do cacau despencaram, e muitos produtores endividados perderam suas propriedades. Este período marca o início de um longo ciclo de crises e recuperações parciais que caracterizaria as décadas seguintes.
A Revolução de 1930 e a ascensão de Getúlio Vargas ao poder também impactaram a estrutura política da região, enfraquecendo o poder dos coronéis tradicionais. Novas forças políticas e econômicas começaram a emergir, e a sociedade regional iniciou um lento processo de diversificação.
A Vassoura-de-Bruxa e o Colapso da Economia Cacaueira
O golpe mais devastador para a economia cacaueira viria décadas depois, em 1989, com a chegada da “vassoura-de-bruxa” (Moniliophthora perniciosa), uma doença fúngica que ataca os cacaueiros. Em poucos anos, a produção desabou, caindo mais de 70% em relação aos níveis anteriores. Estima-se que cerca de 200 mil empregos diretos foram perdidos, provocando um êxodo rural sem precedentes e uma profunda crise social.
A tragédia da vassoura-de-bruxa revelou a vulnerabilidade de uma economia regional dependente de monocultura. Grandes fazendas foram abandonadas, milhares de trabalhadores migraram para as periferias urbanas, e a região entrou em profunda recessão. As paisagens de fazendas prósperas deram lugar a propriedades abandonadas, e as cidades sofreram com o aumento do desemprego e da pobreza.
Tentativas de Diversificação Econômica
Face à crise, diversos esforços de diversificação econômica foram implementados. O turismo emergiu como alternativa importante, aproveitando as belezas naturais do litoral e o patrimônio histórico e cultural da região. Ilhéus, com suas praias e seu centro histórico, além da famosa conexão com a obra de Jorge Amado, tornou-se um destino turístico significativo.
A pecuária expandiu-se sobre antigas áreas de cacau, assim como o cultivo de outros produtos agrícolas, como café, borracha, pupunha e frutas tropicais. A indústria também recebeu incentivos, com a instalação de polos industriais em Ilhéus e Itabuna. Contudo, nenhuma dessas atividades conseguiu substituir plenamente o cacau como motor econômico regional.
A Região Cacaueira Contemporânea
Geografia e Dados Demográficos
A Região Cacaueira ou Costa do Cacau está localizada no Sul da Bahia, abrangendo uma área de aproximadamente 30.000 km². Oficialmente, compreende cerca de 26 municípios, incluindo Ilhéus, Itabuna, Canavieiras, Una, Itacaré, Uruçuca, Buerarema, entre outros.
A população total da região é estimada em cerca de 1,2 milhão de habitantes (dados de 2020), com tendência de concentração urbana crescente. As cidades mais populosas são:
- Itabuna: aproximadamente 215.000 habitantes
- Ilhéus: aproximadamente 165.000 habitantes
A composição étnica da região reflete a diversidade brasileira, com forte presença de afrodescendentes (cerca de 75% da população se declara preta ou parda), resultado do processo histórico de colonização e da economia escravista. A região também abriga comunidades indígenas, principalmente Tupinambás e Pataxós, além de descendentes de europeus, principalmente italianos, suíços e alemães que imigraram para a região no final do século XIX e início do XX.
Importância Política e Econômica Atual
Apesar da crise do cacau, a região mantém significativa importância política e econômica no contexto baiano. O eixo Ilhéus-Itabuna constitui o segundo maior polo urbano do estado, atrás apenas da Região Metropolitana de Salvador. Políticos originários da região tradicionalmente ocupam posições de destaque no cenário estadual e, por vezes, nacional.
Economicamente, a região busca uma nova identidade. A produção de cacau, embora muito abaixo dos níveis históricos, tem mostrado sinais de recuperação graças ao desenvolvimento de variedades resistentes à vassoura-de-bruxa e ao crescente mercado para cacau fino e chocolate gourmet. O conceito de chocolate “tree to bar” e as indicações geográficas têm valorizado a produção local.
O turismo consolidou-se como atividade importante, com destaque para o litoral de Ilhéus, a Costa do Dendê e destinos de ecoturismo como Itacaré e a Serra do Conduru. O Porto de Ilhéus e o aeroporto internacional Jorge Amado são importantes infraestruturas regionais, embora operem abaixo de sua capacidade potencial.
Ilhéus: A Cidade dos Coronéis
Fundada em 1534 como Vila de São Jorge dos Ilhéus, a cidade foi um dos primeiros núcleos de colonização portuguesa no Brasil. Sua história está intrinsecamente ligada à evolução da economia cacaueira, tendo vivido seu período de maior esplendor entre 1890 e 1930, quando o cacau gerava riquezas imensuráveis.
O centro histórico de Ilhéus preserva importantes marcos arquitetônicos desse período áureo, como o Palácio Paranaguá (sede da Prefeitura), o Bar Vesúvio (imortalizado na obra “Gabriela, Cravo e Canela”), o Teatro Municipal e diversas igrejas coloniais. O patrimônio histórico, aliado às belas praias e à forte associação com a obra de Jorge Amado, constitui a base do turismo local.
Economicamente, além do turismo, Ilhéus ainda mantém atividades ligadas ao cacau, abrigando indústrias processadoras e o porto exportador. A cidade também sedia um polo de informática e o campus da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), importante centro de ensino superior e pesquisa da região.
Itabuna: O Coração Comercial
Fundada oficialmente em 1910, Itabuna surgiu como entreposto comercial ligado à economia cacaueira, em um local originalmente conhecido como Tabocas. Diferentemente de Ilhéus, que nasceu como cidade colonial litorânea, Itabuna é produto direto da expansão da fronteira do cacau para o interior.
Hoje, Itabuna é o principal centro comercial e de serviços do sul da Bahia. A cidade possui um forte setor terciário, com shopping centers, universidades, hospitais de referência e uma dinâmica rede de comércio que atende toda a região. O município também abriga importantes indústrias e tem buscado diversificar sua economia após a crise do cacau.
A complementaridade entre Ilhéus e Itabuna é tão significativa que se fala frequentemente do “eixo Ilhéus-Itabuna” como um contínuo urbano-regional que concentra os principais serviços e equipamentos públicos do sul baiano.
O Legado Cultural e Literário
A Literatura do Cacau
A região cacaueira inspirou um importante ciclo literário na literatura brasileira, conhecido como “ciclo do cacau”. Nele, escritores retrataram a saga da conquista da terra, os conflitos sociais, as transformações culturais e o universo humano formado em torno da economia cacaueira.
Entre os principais autores deste ciclo, destacam-se:
- Jorge Amado (1912-2001)
- Adonias Filho (1915-1990)
- Cyro de Mattos (1939-)
- Hélio Pólvora (1928-2015)
- Sosígenes Costa (1901-1968)
- James Amado (1922-2013)
Estes escritores, embora com estilos distintos, compartilhavam o interesse em retratar a formação social única da região cacaueira, os contrastes entre riqueza e pobreza, a luta pela terra e a miscigenação cultural característica do sul baiano.
Jorge Amado: O Grande Cronista da Região do Cacau
Jorge Amado, nascido em Itabuna em 1912 e criado em Ilhéus, tornou-se o mais renomado representante da literatura cacaueira. Suas obras alcançaram reconhecimento mundial, sendo traduzidas para dezenas de idiomas e adaptadas para cinema, televisão e teatro.
Principais Obras Ambientadas na Região Cacaueira:
- Cacau (1933) – Seu segundo romance, com forte teor social, narra a vida dos trabalhadores nas fazendas de cacau, revelando as duras condições de trabalho e as injustiças sociais.
- Terras do Sem Fim (1943) – Considerada por muitos sua obra-prima, retrata a fase de conquista da terra para o plantio do cacau, com suas lutas sangrentas, ambição e violência. A disputa pela mata do Sequeiro Grande simboliza a selvagem corrida pelo “fruto de ouro”.
- São Jorge dos Ilhéus (1944) – Continuação de “Terras do Sem Fim”, mostra a fase seguinte da saga cacaueira, quando os exportadores e banqueiros começam a tomar o lugar dos antigos coronéis.
- Gabriela, Cravo e Canela (1958) – Possivelmente sua obra mais conhecida mundialmente, retrata Ilhéus em 1925, em um momento de transformação econômica e de costumes. A chegada da modernidade confronta-se com as tradições patriarcais, tendo como pano de fundo o romance entre Gabriela e o árabe Nacib.
- Tocaia Grande (1984) – Narra a fundação e o desenvolvimento de um povoado no interior da zona cacaueira, mostrando a diversidade étnica e cultural da formação social regional.
O legado de Jorge Amado vai além da literatura: ele moldou a imagem da região cacaueira no imaginário brasileiro e internacional. Suas descrições de Ilhéus, dos coronéis, das fazendas de cacau e do modo de vida local transformaram-se em poderosos atrativos turísticos e referências culturais. O “Quarteirão Jorge Amado” em Ilhéus, incluindo o Bar Vesúvio e a Casa de Cultura Jorge Amado, são testemunhos da força de sua obra.
Outras Manifestações Culturais
Além da literatura, a região cacaueira desenvolveu manifestações culturais próprias, fruto da miscigenação entre elementos europeus, africanos e indígenas. O samba-de-roda, manifestação afro-brasileira reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial pela UNESCO, tem forte presença na região. Festas religiosas como a de São Jorge (padroeiro de Ilhéus), carnaval e festivais de cultura regional compõem o calendário cultural.
Na gastronomia, destacam-se pratos que mesclam influências portuguesas, africanas e indígenas, com amplo uso de frutos do mar, dendê e mandioca. O chocolate artesanal “bean to bar” tem ganhado destaque nas últimas décadas, com produtos premiados internacionalmente.
Desafios e Perspectivas
Recuperação da Lavoura Cacaueira
A recuperação da lavoura cacaueira permanece um desafio central. Pesquisas da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC) e da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) têm desenvolvido variedades resistentes à vassoura-de-bruxa, e programas governamentais têm incentivado a renovação das plantações. O cacau fino ou de aroma, com maior valor agregado, representa uma aposta para reposicionar o produto baiano no mercado internacional.
O modelo de produção também tem se transformado, com crescente valorização do cacau cultivado em sistemas agroflorestais, especialmente o tradicional sistema “cabruca”, reconhecido por seus benefícios ambientais na conservação da biodiversidade da Mata Atlântica.
Sustentabilidade Ambiental e Social
A região enfrenta o desafio de conciliar desenvolvimento econômico com sustentabilidade ambiental. Abrigando importantes remanescentes de Mata Atlântica, incluindo parques nacionais e estaduais, a região tem potencial para desenvolver um modelo econômico baseado no uso sustentável da biodiversidade.
No aspecto social, a superação das desigualdades históricas permanece um grande desafio. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da região ainda está abaixo da média nacional, e problemas como concentração fundiária, precariedade habitacional nas periferias urbanas e carências na infraestrutura básica persistem.
Diversificação Econômica e Desenvolvimento Regional
A experiência traumática da crise do cacau deixou clara a necessidade de diversificação econômica. O turismo, a indústria de tecnologia, a fruticultura, a aquicultura e a economia criativa são setores com potencial para complementar a renovada economia cacaueira.
O fortalecimento das instituições regionais, como universidades, centros de pesquisa e consórcios intermunicipais, representa um caminho para a construção de políticas de desenvolvimento mais consistentes e adaptadas às especificidades locais.
Conclusão
A Região Cacaueira da Bahia percorreu uma trajetória histórica fascinante: de área periférica na colônia a potência econômica no auge do ciclo do cacau; da prosperidade à crise devastadora; e agora, em busca de um novo modelo de desenvolvimento. Sua contribuição para a economia, a cultura e a identidade brasileiras vai muito além das fronteiras regionais.
As cidades de Ilhéus e Itabuna, com suas histórias entrelaçadas à saga do cacau, continuam a exercer papel central na dinâmica regional, reinventando-se diante dos novos desafios. O patrimônio material e imaterial construído durante o ciclo do cacau constitui um legado valioso, não apenas como atração turística, mas como fundamento para a identidade cultural regional.
A literatura, especialmente a obra de Jorge Amado, imortalizou a epopeia do cacau, dando-lhe dimensão universal. Personagens como os coronéis, jagunços, trabalhadores das roças e figuras urbanas como Gabriela compõem um mosaico humano que continua a fascinar leitores ao redor do mundo.
Os desafios contemporâneos são significativos, mas a resiliência demonstrada ao longo da história e a riqueza de recursos naturais e culturais permitem vislumbrar um futuro promissor para a região. Talvez o maior legado do ciclo do cacau seja justamente esta capacidade de reinvenção, que hoje se manifesta na busca por um desenvolvimento mais sustentável e inclusivo.
FAQ – Perguntas Frequentes sobre a Região Cacaueira da Bahia
1. O que é o sistema “cabruca” de cultivo do cacau? O sistema “cabruca” é um método tradicional de cultivo do cacau na Bahia, onde os cacaueiros são plantados sob a sombra de árvores nativas da Mata Atlântica, mantendo parte da floresta original. Este sistema é considerado ambientalmente sustentável, pois preserva a biodiversidade local, mantém a fertilidade do solo e cria um habitat para diversas espécies animais e vegetais.
2. O que causou a crise da lavoura cacaueira na Bahia? A crise foi desencadeada principalmente pela chegada da doença conhecida como “vassoura-de-bruxa” em 1989, um fungo que devastou as plantações e reduziu drasticamente a produção. Outros fatores contribuíram para agravar a situação, como a queda dos preços internacionais do cacau, o alto endividamento dos produtores e o surgimento de novos concorrentes no mercado global, especialmente países africanos.
3. Quais são os principais municípios da Região Cacaueira da Bahia? Os principais municípios incluem Ilhéus e Itabuna (os maiores centros urbanos), além de Canavieiras, Una, Itacaré, Uruçuca, Buerarema, Coaraci, Ibicaraí, Itapé, Floresta Azul, Jussari, Camacã, Pau Brasil, Santa Luzia, São José da Vitória, Mascote, Arataca, entre outros.
4. Qual a relação entre Jorge Amado e a Região Cacaueira? Jorge Amado nasceu em Itabuna e cresceu em Ilhéus, vivenciando diretamente o ambiente da região cacaueira. Esta experiência influenciou profundamente sua obra literária, com vários de seus romances mais famosos ambientados na região, retratando a conquista da terra para o cultivo do cacau, os conflitos sociais, as transformações culturais e os personagens típicos desse universo.
5. Como a região se recuperou após a crise do cacau? A recuperação tem sido lenta e baseada em múltiplas estratégias: desenvolvimento de variedades de cacau resistentes à vassoura-de-bruxa; diversificação econômica com investimentos em turismo, pecuária, outras culturas agrícolas e indústria; valorização do cacau fino e do chocolate artesanal com maior valor agregado; e fortalecimento das instituições de pesquisa e ensino superior para apoiar a inovação regional.
6. O que representa o termo “coronéis do cacau” na história da região? Os “coronéis do cacau” eram os grandes proprietários de terras e fazendas de cacau que detinham poder econômico e político na região durante o auge da economia cacaueira (1890-1930). O termo “coronel” deriva do título da Guarda Nacional do período imperial, mas se converteu em designação de poder local. Esses fazendeiros controlavam a política regional, mantinham jagunços armados e estabeleciam relações paternalistas com seus trabalhadores, representando uma forma de mandonismo local que marcou profundamente a história e a cultura da região.
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