Introdução
Em 12 de outubro de 1492, três pequenas embarcações comandadas por um navegador genovês tocaram terra nas Bahamas, em um evento que transformaria para sempre o curso da história mundial. Cristóvão Colombo, convencido de que havia chegado às Índias, na verdade havia encontrado um “Novo Mundo” – o continente americano. Este momento representa um dos maiores marcos da história da humanidade, conectando definitivamente civilizações que se desenvolveram isoladamente por milênios.
Entretanto, por trás da narrativa tradicional sobre o “descobrimento da América” existem camadas complexas de verdades históricas, interpretações culturais e legados controversos. Quem foi realmente Cristóvão Colombo? Quais eram suas verdadeiras motivações? Como suas viagens mudaram o mundo? E por que o continente não leva seu nome?
Neste artigo, mergulharemos profundamente na vida de Colombo, suas viagens, descobertas e no impacto duradouro de suas expedições. Analisaremos documentos históricos, relatos contemporâneos e pesquisas modernas para revelar a verdade sobre o homem e o mito, separando os fatos das ficções que cercam um dos navegadores mais famosos e controversos da história.
A Vida Inicial de Cristóvão Colombo
Origens e Formação
Cristóvão Colombo (Cristoforo Colombo em italiano, Cristóbal Colón em espanhol) nasceu em Gênova, Itália, por volta de 1451, embora a data exata seja disputada. Filho de Domenico Colombo, um tecelão de classe média, e Susanna Fontanarossa, o jovem Cristóvão cresceu em um ambiente onde o comércio marítimo era fundamental para a economia local.
Gênova, naquele tempo, era uma potência marítima e comercial, o que certamente influenciou o interesse de Colombo pelo mar. Registros históricos indicam que ele começou a navegar ainda adolescente, por volta dos 14 anos. Suas primeiras viagens foram pelo Mar Mediterrâneo, onde ele adquiriu valiosa experiência em navegação.
Colombo recebeu uma educação limitada, mas típica para alguém de sua classe social na época. Aprendeu a ler e escrever, adquiriu conhecimentos de latim, português e castelhano, além de matemática e astronomia aplicadas à navegação. Também se dedicou ao estudo de obras geográficas importantes para a época, como a “Imago Mundi” de Pierre d’Ailly e os relatos de Marco Polo.
Carreira como Navegador
Na década de 1470, Colombo já era um marinheiro experiente. Participou de expedições comerciais que o levaram ao longo da costa da África, à Inglaterra e possivelmente à Islândia. Um evento crucial ocorreu em 1476, quando o navio em que navegava foi atacado por corsários franceses perto do Cabo São Vicente, em Portugal. Colombo conseguiu se salvar nadando até a costa portuguesa, estabelecendo-se posteriormente em Lisboa.
Portugal, sob o reinado de D. João II, era então o principal centro de exploração marítima da Europa. Lá, Colombo casou-se com Filipa Moniz Perestrelo, filha de um navegador português associado à exploração das ilhas atlânticas. Este casamento não apenas lhe proporcionou conexões sociais importantes, mas também acesso a mapas, cartas náuticas e relatos de navegação que seriam fundamentais para seus futuros empreendimentos.
Durante seu período em Portugal, Colombo realizou várias viagens comerciais, incluindo expedições à costa da Guiné na África. Também viveu por um tempo na ilha da Madeira, onde se acredita que tenha aprimorado seus conhecimentos náuticos e desenvolvido sua teoria sobre a possibilidade de alcançar a Ásia navegando para o oeste.
A Grande Ideia: Navegar para o Oeste
A Concepção do Projeto
No século XV, a ideia de que a Terra era redonda não era revolucionária como muitos pensam erroneamente – essa concepção já era aceita entre a maioria dos estudiosos e navegadores desde a Antiguidade. O que Colombo propôs era algo diferente: alcançar as Índias (Ásia) navegando para o oeste através do Oceano Atlântico, em vez de contornar a África e seguir para o leste, como faziam os portugueses.
Sua teoria baseava-se em cálculos sobre o tamanho da Terra que, hoje sabemos, estavam significativamente errados. Colombo estimava a circunferência terrestre em aproximadamente 30.000 km, quando na realidade ela é de cerca de 40.000 km. Além disso, baseando-se em relatos de Marco Polo e outros exploradores, ele superestimava o tamanho da Ásia, acreditando que o Japão (Cipango) estaria muito mais a leste do que realmente está.
Esses erros de cálculo o levaram a acreditar que a distância entre a Europa e a Ásia, navegando para o oeste, seria de aproximadamente 4.500 km, quando na verdade é mais de 20.000 km. Ironicamente, foi esse erro que tornou sua expedição viável na mente dos patrocinadores – pois com as embarcações da época, uma viagem de 20.000 km sem reabastecimento seria impossível.
Em Busca de Patrocínio
A busca de Colombo por financiamento para sua expedição foi longa e frustrante. Inicialmente, ele apresentou seu projeto ao rei D. João II de Portugal em 1484. O monarca submeteu a proposta a uma comissão de especialistas que a rejeitou, considerando os cálculos de Colombo incorretos (acertadamente) e o projeto inviável.
Após essa recusa, Colombo dirigiu-se à Espanha em 1485, onde tentou obter o apoio dos Reis Católicos, Fernando e Isabel. Durante anos, enfrentou rejeições e adiamentos, enquanto uma comissão espanhola também analisava seus cálculos. Há evidências de que durante esse período ele também enviou seu irmão Bartolomeu para buscar apoio junto à Inglaterra e França, sem sucesso.
O momento decisivo ocorreu após a conquista de Granada em janeiro de 1492, que marcou o fim da presença moura na Península Ibérica. Com esse triunfo político-militar, os Reis Católicos finalmente decidiram apoiar o projeto de Colombo, assinando as Capitulações de Santa Fé em abril de 1492. Este documento concedia a Colombo os títulos de Almirante do Mar Oceano e Vice-rei das terras que descobrisse, além de uma porcentagem dos lucros obtidos.
Contrariamente a algumas narrativas populares, o financiamento da expedição não veio primariamente das joias da rainha Isabel, mas dos cofres reais e de investidores privados, notadamente Luis de Santángel, que atuava como tesoureiro da coroa espanhola.
A Primeira Viagem: O Descobrimento
A Partida e a Travessia do Atlântico
Em 3 de agosto de 1492, Colombo zarpou do porto de Palos de la Frontera com três embarcações: a Santa Maria (a nau capitânia), a Pinta e a Niña, estas últimas caravelas menores e mais ágeis. A tripulação total consistia de aproximadamente 90 homens. A primeira parada foi nas Ilhas Canárias, onde permaneceram por cerca de um mês realizando reparos nas embarcações antes de se lançarem ao desconhecido Oceano Atlântico em 6 de setembro.
A travessia foi marcada por momentos de tensão e incerteza. Conforme os dias passavam sem sinais de terra, crescia o descontentamento entre os tripulantes. Os diários de bordo de Colombo, embora posteriormente editados por Bartolomé de las Casas, revelam que houve inquietação, mas não uma ameaça de motim aberto como frequentemente se retrata em narrativas populares.
Colombo mantinha dois registros de distância percorrida: um público, com valores menores para não alarmar a tripulação quanto à distância que se afastavam da Espanha, e outro privado, com cálculos mais precisos. Durante a viagem, observaram fenômenos como a variação da declinação magnética da bússola e encontraram sinais encorajadores como aves, vegetação flutuante e pedaços de madeira trabalhada, indicando proximidade de terras.
O Desembarque no Novo Mundo
Finalmente, na madrugada de 12 de outubro de 1492, após 36 dias de navegação desde as Canárias, o marinheiro Rodrigo de Triana, a bordo da Pinta, avistou terra. Tratava-se de uma ilha no arquipélago das Bahamas que os nativos chamavam de Guanahani e que Colombo batizou como San Salvador (acredita-se que seja a atual ilha Watling).
Colombo desembarcou com seus capitães e alguns tripulantes, hasteou o estandarte real espanhol e tomou posse formal da terra em nome dos Reis Católicos. Neste primeiro contato, encontraram os nativos taínos, que os receberam pacificamente. Em seus registros, Colombo descreveu-os como pessoas gentis, de pele avermelhada, que andavam praticamente nus e não possuíam armas de ferro. Ele os chamou de “índios”, convencido de que havia chegado às Índias.
Durante os meses seguintes, Colombo explorou outras ilhas do Caribe, incluindo Cuba (que ele acreditava ser o Japão ou parte da China continental) e Hispaniola (atual Haiti e República Dominicana). Na véspera de Natal de 1492, a Santa Maria encalhou perto da costa de Hispaniola. Com a madeira do navio, Colombo construiu um forte chamado La Navidad e deixou nele 39 homens, os primeiros europeus a se estabelecerem no Novo Mundo.
Em janeiro de 1493, Colombo iniciou a viagem de retorno à Espanha, levando consigo alguns indígenas, amostras de plantas e pequenas quantidades de ouro. Chegou a Lisboa em março de 1493, sendo posteriormente recebido com honras pelos Reis Católicos em Barcelona.
As Viagens Subsequentes
Segunda Viagem (1493-1496)
Entusiasmados com o aparente sucesso da primeira expedição, os Reis Católicos rapidamente financiaram uma segunda viagem muito maior. Em setembro de 1493, Colombo partiu de Cádiz com 17 navios e cerca de 1.200 homens, incluindo colonos, soldados, artesãos e missionários. O objetivo não era apenas explorar, mas estabelecer colônias permanentes.
Ao chegar a La Navidad, Colombo descobriu que o forte havia sido destruído e todos os espanhóis mortos, aparentemente após conflitos com os nativos. Ele então estabeleceu um novo assentamento chamado La Isabela na costa norte de Hispaniola, a primeira cidade europeia no Novo Mundo.
Durante esta expedição, Colombo explorou mais extensivamente as ilhas do Caribe, incluindo Porto Rico, Jamaica e percorreu a costa sul de Cuba, que ele insistia ser parte do continente asiático. As dificuldades foram muitas: doenças, escassez de alimentos e conflitos com os indígenas. Os colonos espanhóis, muitos deles nobres em busca de riquezas rápidas, mostraram-se mal preparados para a vida dura na colônia.
Colombo implementou o sistema de “repartimiento” ou “encomienda”, pelo qual os nativos eram forçados a trabalhar para os espanhóis, supostamente em troca de proteção e educação cristã. Esta prática levaria a abusos severos e ao início do genocídio das populações indígenas caribenhas.
Diante de crescentes problemas na administração da colônia e rumores desfavoráveis chegando à Espanha, Colombo retornou em 1496 para defender sua posição junto aos monarcas.
Terceira Viagem (1498-1500)
A terceira expedição partiu em maio de 1498 com seis navios. Três seguiram diretamente para Hispaniola com suprimentos, enquanto Colombo com os outros três navegou mais ao sul, descobrindo a ilha de Trinidad e finalmente tocando o continente sul-americano na península de Paria, na atual Venezuela. O volume de água doce desaguando no mar o fez concluir corretamente que havia encontrado um continente, embora ainda acreditasse estar na Ásia.
Ao chegar a Hispaniola, encontrou a colônia em revolta. Durante sua ausência, os colonos, descontentes com a falta de riquezas fáceis e as condições difíceis, haviam se rebelado contra seu irmão Bartolomeu, que governava em seu lugar. A situação era tão crítica que os Reis Católicos enviaram Francisco de Bobadilla como investigador real.
Bobadilla, ao chegar em 1500, decidiu que Colombo era incapaz de governar. Destituiu-o de seus poderes, confiscou seus bens e o enviou de volta à Espanha em correntes, junto com seus irmãos. Embora os monarcas tenham imediatamente ordenado sua libertação ao chegar e o recebido com deferência, ficou claro que sua posição havia sido significativamente enfraquecida.
Quarta Viagem (1502-1504)
A quarta e última viagem de Colombo partiu de Cádiz em maio de 1502 com quatro navios e aproximadamente 150 homens. Desta vez, ele foi proibido de parar em Hispaniola, exceto em caso de emergência, evidenciando sua perda de autoridade sobre as colônias.
O objetivo declarado era encontrar uma passagem para o Oceano Índico. Colombo explorou a costa da América Central, desde Honduras até o Panamá, onde ouviu relatos indígenas sobre outro oceano além das montanhas (o Pacífico), mas não compreendeu totalmente a importância desta informação.
Esta viagem foi marcada por extremo infortúnio. Tempestades violentas, ataques indígenas e, sobretudo, a perda de seus navios devido ao ataque de teredos (moluscos que perfuram a madeira) forçaram Colombo e sua tripulação a ficar encalhados na Jamaica por mais de um ano. Finalmente resgatados em junho de 1504, retornaram à Espanha em novembro daquele ano.
O Legado Controverso de Colombo
O Impacto Global das Descobertas
As viagens de Colombo desencadearam o processo que os historiadores chamam de “Encontro Colombiano” ou “Intercâmbio Colombiano” – o maior processo de transferência de pessoas, plantas, animais, doenças e culturas da história humana. Este intercâmbio transformou profundamente tanto o Velho quanto o Novo Mundo.
Para a Europa, as descobertas abriram novas rotas comerciais, forneceram vastos recursos naturais e territórios, e alteraram fundamentalmente o equilíbrio de poder entre as nações. Espanha e Portugal emergiram como superpotências globais, enquanto potências tradicionais como as cidades-estados italianas entraram em declínio relativo.
Novos produtos agrícolas como milho, batata, tomate, pimentão, cacau e tabaco revolucionaram a dieta européia e eventualmente mundial. O ouro e a prata americanos financiaram o desenvolvimento do capitalismo mercantil e estimularam a Revolução Industrial séculos depois.
Para as Américas, contudo, o impacto inicial foi devastador. Estima-se que até 90% da população indígena tenha sido dizimada nas décadas seguintes ao contato, principalmente devido a doenças europeias como varíola, sarampo e gripe, contra as quais os nativos não tinham imunidade. Este foi um dos maiores colapsos demográficos da história humana.
Além disso, sistemas de trabalho forçado como a encomienda e posteriormente a escravidão africana causaram sofrimento incalculável e alteraram permanentemente a composição étnica e cultural do continente.
O Homem vs. O Mito

A figura histórica de Cristóvão Colombo tem sido objeto de interpretações radicalmente diferentes ao longo dos séculos. Durante muito tempo, foi retratado no mundo ocidental como um herói visionário, um intrépido explorador que enfrentou o desconhecido e abriu caminho para a “civilização”. Nos Estados Unidos, particularmente, foi elevado a símbolo nacional, com feriados, monumentos e cidades recebendo seu nome.
Entretanto, documentos históricos revelam um homem mais complexo e contraditório. Colombo era inegavelmente um navegador habilidoso e persistente, mas também demonstrou deficiências como administrador colonial. Seus escritos revelam uma personalidade profundamente religiosa, frequentemente interpretando eventos como sinais divinos, mas também pragmática e ambiciosa, obcecada por títulos e recompensas financeiras.
Quanto ao tratamento dos indígenas, registros contemporâneos, incluindo seus próprios diários e relatos de figuras como Bartolomé de las Casas, documentam práticas que hoje consideraríamos brutais – escravização, mutilações como punição e imposição forçada do trabalho e da religião. Contudo, é importante contextualizar que muitas dessas práticas não eram consideradas extraordinárias pelos padrões europeus da época, e o próprio Colombo se via como um agente da cristianização, que em sua visão beneficiaria os nativos.
Nas últimas décadas, com maior atenção às perspectivas indígenas e uma reavaliação crítica do colonialismo, a imagem de Colombo tem sido significativamente revisada. Em muitos lugares das Américas, o “Dia de Colombo” tem sido substituído ou complementado pelo “Dia dos Povos Indígenas” ou denominações semelhantes, reconhecendo que para as populações nativas, sua chegada marcou o início de séculos de exploração e destruição cultural.
Por que “América” e não “Colômbia”?
Américo Vespúcio e a Nomeação do Continente
Um dos fatos mais intrigantes sobre o “descobrimento” da América é que o continente não recebeu o nome de seu primeiro explorador europeu documentado. Em vez disso, foi batizado em homenagem a Américo Vespúcio (1454-1512), um navegador e cosmógrafo florentino que explorou a costa da América do Sul entre 1499 e 1502.
Vespúcio participou de pelo menos duas expedições ao Novo Mundo. A primeira, em 1499-1500, sob bandeira espanhola, explorou a costa norte da América do Sul. A segunda, em 1501-1502, a serviço de Portugal, percorreu extensamente a costa brasileira.
O que distinguiu Vespúcio de Colombo foi sua conclusão de que as terras descobertas não eram parte da Ásia, mas constituíam um continente inteiramente novo, desconhecido pelos europeus. Em cartas amplamente divulgadas na Europa (algumas das quais cuja autenticidade é questionada por historiadores modernos), Vespúcio descreveu o que chamou de “Mundus Novus” (Novo Mundo).
Em 1507, o cartógrafo alemão Martin Waldseemüller publicou um mapa-múndi intitulado “Universalis Cosmographia”, no qual designou as terras recém-descobertas como “America”, em homenagem a Vespúcio (latinizando seu nome para Americus Vespucius). Waldseemüller escreveu: “Não vejo razão para que [estas terras] não sejam chamadas Amerige, que significa terra de Américo, ou América, segundo o descobridor Américo, homem de grande engenho”.
Este mapa teve grande circulação e influência, solidificando o nome “América” na consciência europeia. Curiosamente, em mapas posteriores, Waldseemüller tentou remover o nome, talvez reconhecendo que a contribuição de Colombo havia sido subestimada, mas era tarde demais – o nome já havia sido adotado por outros cartógrafos.
O Reconhecimento Tardio de Colombo
Ironicamente, Colombo morreu em 1506 ainda convencido de que havia alcançado a Ásia, um ano antes do mapa de Waldseemüller ser publicado. Ele nunca soube que havia “descoberto” um novo continente, e tampouco viu este continente receber o nome de outro explorador.
Apesar de não ter dado nome ao continente, Colombo não foi esquecido. A nação da Colômbia, a capital dos Estados Unidos (Distrito de Columbia), a província canadense da Colúmbia Britânica, e inúmeras cidades, rios e instituições em todo o mundo levam seu nome. Além disso, o termo “pré-colombiano” é utilizado para descrever as civilizações americanas antes de 1492, marcando sua chegada como um divisor histórico fundamental.
Na cultura popular, Colombo permanece como um símbolo poderoso e controverso. O feriado do “Columbus Day” (Dia de Colombo) foi oficialmente estabelecido nos Estados Unidos em 1937, embora celebrações já ocorressem desde o século XVIII, especialmente entre comunidades ítalo-americanas que o reivindicavam como símbolo de orgulho étnico.
Os Verdadeiros “Descobridores” da América
Povos Nativos: Os Primeiros Americanos
Para compreender adequadamente o “descobrimento” da América, é essencial reconhecer que o continente já era habitado há milênios quando Colombo chegou. Os verdadeiros primeiros humanos nas Américas foram os ancestrais dos povos indígenas, que migraram da Ásia para a América do Norte através do Estreito de Bering.
Evidências arqueológicas recentes sugerem que esta migração ocorreu há pelo menos 15.000 anos, com alguns estudos indicando possíveis ocupações ainda mais antigas, de até 20.000 anos. Estes primeiros americanos se dispersaram pelo continente, desenvolvendo sociedades complexas adaptadas aos diversos ambientes.
No momento da chegada de Colombo, estima-se que a população indígena das Américas estivesse entre 50 e 100 milhões de pessoas. Civilizações sofisticadas como os Astecas, Maias e Incas haviam desenvolvido sistemas de escrita, calendários precisos, arquitetura monumental e redes comerciais extensas. Outras sociedades menos centralizadas, como os povos da Amazônia, haviam desenvolvido técnicas agrícolas sustentáveis e profundo conhecimento botânico.
A perspectiva indígena sobre o “descobrimento” é radicalmente diferente da narrativa eurocêntrica tradicional. Para estes povos, o evento marca não uma descoberta, mas uma invasão que resultou em séculos de colonização, deslocamento e genocídio.
Exploradores Nórdicos e Outras Possibilidades
Colombo também não foi o primeiro europeu a alcançar as Américas. Evidências arqueológicas e históricas confirmam que navegadores nórdicos (vikings), liderados por Leif Erikson, estabeleceram assentamentos na América do Norte por volta do ano 1000 d.C., quase 500 anos antes de Colombo.
Escavações em L’Anse aux Meadows, em Newfoundland (Canadá), revelaram inequívocas ruínas nórdicas datadas deste período. As sagas islandesas, particularmente a “Saga de Erik, o Vermelho” e a “Saga dos Groenlandeses”, também documentam estas viagens à terra que os nórdicos chamaram de “Vinlândia”, devido às uvas selvagens que encontraram.
Há também teorias, algumas mais especulativas do que outras, sobre possíveis contatos pré-colombianos entre as Américas e outras civilizações. Estas incluem hipóteses sobre navegadores polinésios alcançando a costa oeste sul-americana (apoiada por algumas evidências genéticas e botânicas), e contatos entre civilizações africanas e mesoamericanas (sugeridos por similaridades culturais e possíveis evidências arqueológicas).
O que distingue fundamentalmente as viagens de Colombo destes contatos anteriores não é a primazia cronológica, mas o impacto global. Enquanto os assentamentos nórdicos foram breves e isolados, sem consequências duradouras para ambos os mundos, as viagens de Colombo iniciaram um processo permanente e transformador de encontro entre civilizações, para o bem e para o mal.
Conclusão
Cristóvão Colombo permanece uma das figuras mais importantes e controversas da história mundial. Sua determinação em perseguir uma visão – mesmo baseada em cálculos incorretos – levou a um dos encontros mais consequentes entre civilizações humanas. Suas viagens alteraram irreversivelmente o curso da história global, conectando definitivamente hemisférios que se desenvolveram isoladamente por milênios.
Ao examinar criticamente a vida e o legado de Colombo, não devemos cair na armadilha de julgá-lo exclusivamente pelos padrões éticos contemporâneos, nem de ignorar as consequências devastadoras que suas viagens tiveram para os povos indígenas. Uma avaliação equilibrada reconhece tanto suas realizações náuticas extraordinárias quanto sua participação nos sistemas de exploração colonial que se seguiram.
O “descobrimento da América” foi, na realidade, um encontro complexo entre mundos, não um evento único, mas um processo histórico de longo prazo com ramificações que continuamos a experimentar até hoje. As civilizações europeias, indígenas americanas e posteriormente africanas (através da escravidão) se entrelaçaram para criar as sociedades multiculturais que caracterizam as Américas modernas.
Reconhecer a complexidade deste processo histórico, dar voz às diversas perspectivas envolvidas e compreender suas implicações contínuas nos permite uma apreciação mais rica e nuançada deste momento pivotal na história humana. O legado de Colombo, para o bem ou para o mal, permanece vivo no tecido social, cultural e político do mundo que habitamos.
FAQ
1. Colombo realmente acreditava ter chegado à Ásia?
Sim, Colombo morreu em 1506 ainda convencido de que havia alcançado as Índias Orientais ou regiões periféricas da Ásia. Apesar de evidências crescentes de que se tratava de um continente desconhecido pelos europeus, ele jamais abandonou sua crença original. Foi Américo Vespúcio quem primeiro propôs claramente a ideia de um “Novo Mundo”.
2. Por que as civilizações nativas americanas não resistiram efetivamente à colonização europeia?
Vários fatores contribuíram para isso. O principal foi o impacto devastador das doenças europeias, que dizimaram até 90% da população em algumas regiões antes mesmo do contato direto com colonizadores. Além disso, diferenças tecnológicas (especialmente em armamentos), divisões políticas entre os povos nativos que foram exploradas pelos europeus, e estratégias coloniais deliberadas de dominação cultural e religiosa também desempenharam papéis importantes.
3. Colombo foi realmente um grande navegador ou teve sorte?
Colombo era indiscutivelmente um navegador habilidoso com vasta experiência prática. Seus cálculos sobre o tamanho da Terra estavam errados, mas sua capacidade de navegar utilizando ventos, correntes e observações astronômicas era excepcional para a época. A “sorte” foi encontrar um continente desconhecido exatamente onde esperava encontrar a Ásia – mas foi sua habilidade que garantiu uma travessia segura do Atlântico em ambas as direções.
4. Como os indígenas perceberam a chegada dos europeus?
Os registros são principalmente europeus, mas indicam reações diversas. Inicialmente, muitos grupos receberam os europeus com curiosidade e hospitalidade. Em algumas culturas, como a asteca, há evidências de que interpretaram a chegada dos europeus através de lentes religiosas ou profecias existentes. Conforme as intenções colonizadoras se tornaram claras, a resistência aumentou, mas frequentemente tarde demais devido ao impacto das doenças e divisões internas.
5. O que aconteceu com Colombo no final de sua vida?
Após sua quarta viagem, Colombo retornou à Espanha em 1504 fisicamente debilitado. Passou seus últimos anos lutando para recuperar privilégios e recompensas que considerava ter direito por contrato com os Reis Católicos, especialmente após a morte da rainha Isabel em 1504. Morreu em Valladolid, Espanha, em 20 de maio de 1506, relativamente esquecido e sem saber da verdadeira magnitude de suas descobertas. Seus restos mortais passaram por várias transferências, e sua localização atual é objeto de controvérsia.
6. Existem evidências de que outros europeus chegaram à América antes de Colombo e dos nórdicos?
Existem várias teorias sobre contatos pré-colombianos além dos nórdicos, incluindo hipóteses sobre fenícios, romanos, irlandeses, galeses e chineses alcançando as Américas. Contudo, apenas a presença nórdica por volta do ano 1000 d.C. é confirmada por evidências arqueológicas sólidas. As demais teorias variam de plausíveis a altamente especulativas, baseando-se principalmente em similaridades culturais, análises linguísticas e interpretações controversas de artefatos arqueológicos.
Continue lendo…
- Estados Unidos aliviam sanções à Síria após promessa de Trump
- Drones e mísseis russos causam incêndios e ferem oito em Kiev, diz prefeito
- Ataque nos EUA: É preciso condenar qualquer ato de antissemitismo
- Negociação nuclear entre EUA e Irã tem progresso, mas sem resultados
- Israel vai atacar o Irã? Projeto nuclear iraniano gera tensão regional